Mesmo com a morte recente do editor de vídeo, José Augusto Nascimento e Silva, trabalhador do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) no Rio de Janeiro que não resistiu à contaminação, empresas de comunicação do país ainda não estão protegendo adequadamente seus trabalhadores e trabalhadoras contra a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), segundo denúncia do diretor de Administração e Finanças do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ) e do Departamento de Mobilização da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Márcio Leal.

Ele se baseou nas informações que tem recebido nas reuniões remotas, que faz com representantes de diversas entidades sindicais de todo o país por conta do isolamento social determinado para conter o contágio.

Segundo Márcio, o sindicato no Rio de Janeiro não tem medido esforços para cobrar e exigir respostas das empresas de comunicação no Estado, que, segundo ele, continuam não implementando medidas de emergências de proteção aos seus trabalhadores e trabalhadoras, como trabalho remoto de editores, distanciamento social em trabalhos de ruas e entre as mesas de trabalho, o uso de Equipamentos de Proteção Individual, entre outros.

“A gente desde o começo está cobrando informações sobre as condições de trabalho dos jornalistas e radialistas, junto com o sindicato da categoria, e ao mesmo tempo não paramos de receber denúncias de trabalhadores falando da falta de proteção e do descumprimento de medidas de urgência por parte das empresas”, afirmou.

SBT RIO

Um trabalhador do SBT do Rio de Janeiro, que não quis se identificar, disse que teve que retornar ao trabalho depois de quase duas semanas para fazer um teste rápido do coronavírus e percebeu algumas mudanças na estrutura da empresa, depois que as denúncias começaram a ser publicadas.

“Teve que morrer um para fazerem alguma coisa”, afirmou ele, que também contou que mais de 35 funcionários, entre jornalistas e cinegrafistas, foram afastados há mais de duas semanas com suspeita da doença.

“Lá na redação quase só vê freelances, que foram contratados temporariamente para nossos lugares. Mas acho que com as testagens de hoje, logo voltaremos ao trabalho”, destacou o trabalhador.

Márcio disse que mesmo depois da morte de Nana, como era conhecido o editor de vídeo que morreu de Covid-19, as empresas não estão respondendo e informando periodicamente para os sindicatos se estão protegendo seus trabalhadores ou não.

E ao mesmo tempo, segundo ele, “recebemos denúncias de que teriam vários casos suspeitos de contaminação no SBT”, contou Márcio, dizendo que o local de trabalho dos jornalistas na empresa é um cubículo sem janela e não tem condições de manter o distanciamento necessário.

“Para os trabalhadores do SBT e para o sindicato dos Jornalistas a melhor alternativa para solucionar este foco do vírus que temos no SBT é a interdição do local. A redação realmente é um local insalubre, sem ventilação e máquinas coladas umas nas outras. Nós já pedimos ao Ministério Público do Trabalho a interdição e a transferência do local da redação”, afirmou a diretora Executiva do SJPMRJ, Carmen Pereira.

Cenário é maior

E isto não é uma situação típica do Rio de Janeiro. A presidenta da Fenaj, Maria José Braga, a  Zequinha, disse que a entidade ainda está fazendo o levantamento, porque não tem resposta da maioria dos Sindicatos sobre o número de contaminados nas empresas e nem das condições de trabalho dos profissionais.

“Mas já sabemos de vários casos de jornalistas positivos para o novo coronavirus. Três no Rio Grande do Sul, 1 em Santa Catarina, 8 no Ceará, 1 no Pará e 1 no Paraná. São  Paulo e Rio de Janeiro têm casos, mas ainda não temos os números”, contou.

“A FENAJ e os Sindicatos de Jornalistas têm reivindicado, junto às empresas empregadoras, medidas para o trabalho seguro. Sabemos que o Jornalismo é essencial para a informação da sociedade, mas os profissionais que estão na linha de frente têm de ser protegidos”, afirmou Zequinha.

Ela disse que a Fenaj tem cobrado e os sindicatos têm reforçado as seguintes medidas: trabalho remoto sempre que possível, trabalho apenas remoto para os profissionais mais vulneráveis, utilização de máscaras fornecidas pelas empresas, readequação das redações para manutenção de distância entre ilhas de trabalho, higienização das redações, microfones individuais e limpos e isolamento imediato de quem tem algum sintoma ou teve contato com alguém com sintomas.

Casos no Ceará

O Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) também tem enfrentado este tipo de problema e, segundo informação da Fenaj, até então, é o estado com mais casos de profissionais doentes. Além de ter cobrado medidas emergenciais de proteção, o sindicato também tem recebido denúncias e notícias de contaminações nas redações.

“Como Ceará, assim como São Paulo, é um grande foco da transmissão comunitária do vírus a gente observou que as empresas não estão seguindo as regras emergenciais com aqueles que estão ficando doentes. Temos denúncia de quem os contaminados não estão cumprindo os 14 dias de quarentena e voltando para trabalhar antes”, contou a segunda vice-presidenta da Fenaj e diretora do Sindjorce, Samira de Castro.

Segundo o sindicato, Já são quase 12 os casos de Covid-19 confirmados e com foco de transmissão do vírus no Sistema Jangadeiro, retransmissor do “SBT” no estado, 2 no “Grupo O Povo de Comunicação” e no maior grupo, o “Sistema Verdes Mares”, que tem a afiliada da Globo, não há registros.

“No Sistema Verdes Mares foi o primeiro lugar onde conseguimos implantar as medidas de proteção dos jornalistas, que foram: o afastamento de pessoas com mais de 60 anos, pessoas com comorbidades e grávidas para home office ou dispensa total do trabalho sem redução salarial. E também conseguimos o isolamento de dois apresentadores de telejornal que tiveram contato com o Prefeito de Fortaleza, que estava infectado e que cumpriram os 14 dias de quarentena”, afirmou Samira.

O presidente do Sindjorce, Rafael Mesquita, lembrou que o Jornal O Povo resistiu, mas também concordou com home office para muitos trabalhadores depois que o sindicato denunciou a situação no Ministério Público do Trabalho (MPT).

Segundo ele, “com tudo isso, ainda temos recebido comunicados e informações de pelo menos 5 empresas de comunicação, rádio, TV e site de notícias, que vão reduzir salários e jornadas em até 70%, suspender contratos de trabalho, seguindo as medidas de retirada de direitos  de Bolsonaro, que coloca o lucro acima das vidas”.

Unidos pela saúde dos trabalhadores e trabalhadoras da comunicação

Sindicatos de radialistas do Distrito Federal, de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Pará e Roraima, Sindicatos de Jornalistas do Distrito Federal, de São Paulo, Rio de Janeiro, a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radio e TV (FITERT), a Fenaj e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) assinaram juntos um oficio que será entregue às Empresas e Prestadoras de Serviços de Comunicação cobrando URGÊNCIA de medidas para garantir a segurança e saúde dos trabalhadores e trabalhadoras nesse período de pandemia.

As entidades sugerem 17 medidas, entre elas: criação de um “Comitê de prevenção ao coronavírus” nas empresas, com participação de representação dos trabalhadores, que as empresas, nos casos suspeitos de Covid -19, submetam os trabalhadores a realização do exame, pago pela empresa, e ofertem assistência médica, social e psicológica aos infectados, via plano de saúde ou não.

“Certo de que a saúde de todos e todas é prioridade nesse momento nos colocamos a disposição para a busca de soluções que garantam o trabalho de radialistas e jornalistas, sabemos que a informação apurada e veiculada de forma profissional e responsável é fundamental para a sociedade atravessar esse momento de tanta apreensão”, diz trecho do documento.

Fonte: CUT

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