No momento mais tenso e emocionante do 11º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CONCUT), em São Paulo, os delegados e delegadas aprovaram na manhã desta quinta-feira (12), a paridade entre homens e mulheres nas instâncias de direção.
A partir das próximas eleições, previstas para 2015, tanto a direção nacional quanto as estaduais da CUT deverão reservar ao menos 50% de cargos para cada gênero.
A conquista ocorre 19 anos após a Central aprovar a destinação de 30% das vagas para cada gênero, na 6ª Plenária, em 1993. Em 2008, durante a 12ª Plenária Nacional da CUT, a definição passa a integrar o estatuto da entidade.
Como naquela ocasião, o avanço foi resultado de muita mobilização. Completamente lotado, o auditório do Transamérica Expo Center, onde acontece o congresso, foi tomado por bandeiras na cor lilás, batuques e uma verdadeira barricada de mulheres CUTistas que se posicionaram diante da mesa responsável por conduzir a votação. Os gritos de que para crescer e para mudar era preciso aprovar a paridade certamente contagiou o plenário, que referendou a proposta favorável à tese.
Antes, porém, a CUT abriu espaço para que trabalhadoras favoráveis e contrárias à proposta pudessem expor os argumentos.
Secretária da Mulher Trabalhadora, Rosane Silva, defendeu que, apesar de maioria na sociedade e no mercado de trabalho, as mulheres ainda tinham negado o direito de estar representadas nos espaços políticos, principalmente no movimento sindical. “Não aceitaremos apenas resoluções sobre a paridade, queremos que esse mecanismo esteja expresso no estatuto”, comentou a dirigente.
O grupo das trabalhadoras favoráveis ressaltou que não se tratava de debate meramente burocrático, mas sim uma oportunidade para continuar avançando na ocupação de espaços de decisão. Argumentaram que a presença de 42% de mulheres nesta edição do CONCUT era a prova de que a política de cotas é essencial.
Entre as dirigentes contrárias estava a dirigente da CUT e representante da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário e do Ministério Público da União (Fenajufe), Jaqueline Albuquerque. Para ela, a paridade é uma falsa solução, que contribui para a divisão de classe. “Nunca houve impedimento para ocuparmos direção. Queremos conquistar não por imposição de cotas, mas pelo trabalho que realizamos em nossos sindicatos. O debate deve ser de classes e não de gênero”, disse.
Secretária de Meio Ambiente da Central, Carmen Foro, também defendeu a aprovação da paridade como um reconhecimento da existência da opressão contra as mulheres e uma evidência de que a entidade atingiu a maturidade. Por fim, destacou que a conquista era fruto de muitas outras trabalhadoras que iniciaram a discussão.
“Muitas delas já partiram e a melhor homenagem que podemos prestar às companheiras como Maria Ednalva (primeira secretária da Mulher Trabalhadora da CUT) é aprovar a paridade.”
Sob esse clima a esmagadora maioria ergueu seus crachás e disse sim à ampliação da participação das mulheres nas instâncias de poder da CUT. Como não poderia deixar de ser, aos gritos de Central Única das Trabalhadoras, elas demonstraram que cada vez mais, o movimento sindical reconhece que tem dois gêneros.